Cultura regional e oportunidades de negócios no campus Pampulha
A UFMG promoveu com entrada franca, entre os dias 03 a 08 de maio a 11ª Feira de Artesanato do Vale do Jequitinhonha. O evento realizado na praça de serviços do campus Pampulha, em Belo Horizonte. A Feira foi inicialmente organizada pelo programa Pólo de Integração da UFMG no Vale do Jequitinhonha. A partir da segunda edição, em 2001, a exposição passou a ser promovida pela Diretoria de Ações Culturais (DAC) da Universidade.

A Feira constitui um importante espaço para a troca e comercialização dos produtos regionais dos artesãos do nordeste mineiro. Segundo diagnóstico realizado pelo Programa Pólo, uma das maiores dificuldades das pessoas que confeccionam artesanato no Vale é justamente a falta de espaço para expor sua produção. Dessa forma, a Feira proporciona um espaço importante de visibilidade e de trocas comerciais sem a necessidade de intermediários.

Os dias de realização da exposição são escolhidos estrategicamente. O evento acontece na semana que antecede o Dia das Mães,- segunda data comemorativa que mais movimenta o mercado. A conveniência da data é percebida pelos números que a Feira tem apresentado. Só no ano passado as vendas alcançaram a expressiva cifra de R$90.000,00, atraindo cerca de 8.000 pessoas.

Concomitantemente com a Feira, diversas apresentações musicais, saraus e outras manifestações que remetam à cultura do Vale do Jequitinhonha são realizadas no campus Pampulha. Essas atividades aumentam o trânsito de pessoas pela exposição, além de dar à Feira uma dimensão de evento cultural.

Desde 2005, a Feira de Artesanato do Vale do Jequitinhonha na UFMG também oferece aos artesãos a oportunidade de participarem e de ministrarem oficinas. Esses encontros visam, além da melhoria dos produtos confeccionados pelos habitantes do Vale, a troca de conhecimentos científicos e culturais entre as pessoas que produzem artesanato na região e comunidade acadêmica como um todo.

É importante ressaltar que em 2010, assim como no ano passado, a participação de artesãos nesta feira se dará exclusivamente via associações. Segundo a organização do evento, à medida que visa o associativismo tem um propósito: "A construção de um novo perfil profissional que ajude a elevar a autoestima dos grupos produtivos, proporcionando-lhes condições de aumentar seus rendimentos de forma organizada e fortalecendo o processo coletivo de geração de renda.".

Homenageados

Desde 2009 a Feira concede um lugar de destaque no evento a dois homenageados. Na edição anterior, a mestra bordadeira Dona Duquinha, de Turmalina, e mestre Ulisses Pereira Chaves, ceramista de Caraí, falecido em 2006, receberam menção. A Feira de 2010 homenageará duas mestras artesãs do Vale do Jequitinhonha: Dona Zefa, de Araçuaí e Ana do Baú, de Minas Novas.

DONA ZEFA. Foto João Teixeira JúniorDona Zefa

Ana Fernandes de Souza, a Ana do Baú, é natural de Campo Alegre, distrito de Turmalina. O apelido vem da época que residiu na Fazenda do Baú, proximidades de Minas Nova. Famosa artesã da região, destacou-se pelas peculiares bonecas com rolinhos no cabelo e sorriso estridente. Chama atenção o cuidado com que realiza suas peças. "Mesmo nos meus bules menores se podia beber água; eu escavava direitinho, para que ficasse bem feito, trabalho de muita paciência. Isso ninguém fazia", conta ela.

Dona Ana parou de trabalhar com cerâmicas há cerca de 20 anos, logo após a morte da irmã adotiva e companheira de vida Natália: "Estava acostumada a trabalhar em parceria com a Natália e trabalhar sozinha ficou pesado". Apesar do belo trabalho e da disponibilidade em ensinar, a artista não deixou seguidores de seu estilo de fazer artesanato. Pois segundo ela, faltou interesse no aprendizado: "Ensinar o trabalho eu ensinava, mas a maioria das pessoas não queria aprender, não tinham paciência".



 Fonte: Aluysio Ferreira Pólo Jequitinhonha da UMFG

Ana do Baú. Foto João Teixeira Júnior
Ana do Baú
Em sua casa, Dona Ana não conserva nenhuma de suas obras. As últimas peças que possuía - recordações de família ou objetos funcionais - foram solicitadas por estudiosos, turistas ou curiosos que visitaram sua casa. As peças de Ana do Baú podem ser vistas no Memorial da América Latina, em são Paulo, em acervo reunido pelos franceses Jacques e Maurren Bisilliat. 

Nascida em Sergipe, Dona Zefa fez um longo caminho até Araçuaí, onde reside atualmente. No início de sua produção, a artesã utilizava a argila como matéria-prima até que descobriu a madeira e passou a trilhar um caminho ímpar ao retratar figuras com traços da cultura do nordeste brasileiro. Das malas de madeira que fabricava para sobreviver às suas abstrações, já nos anos 70, a artista ganhou reconhecimento nacional e internacional, exportando suas peças para os Estados Unidos e para a Alemanha. Seus trabalhos hoje são encontrados em coleções particulares e museus do Brasil e do exterior.

É incontestável e forte a influência que a artesã exerce na produção artística local. Hoje, aos 84 anos, Zefa diz que se aposentou. Com problemas de vista, não consegue mais talhar a madeira com perfeição como antes, mas seu legado à cultura do Vale do Jequitinhonha e à cidade de Araçuaí ficarão para sempre.

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